UM AMOR SURREAL

                                           UM AMOR SURREAL

   Ninguém amou como Marcos amou aquela menina, no mais belo momento da vida dele. Foi no circo que visitou São Lourenço, em 1943, quando MARCOS tinha sete anos. Havia música ao vivo, nos espetáculos noturnos. Um extraordinário saxofonista tocava uma bela, belíssima valsa brasileira. Mas uma triste valsa. O menino ria daqueles pobres palhaços de sapatões velhos, horríveis, e roupas tão espalhafatosas quanto velhas. Mas os achava gozadíssismos e ria gostosamente, ria que ria sem suspeitar que iria viver um momento celestial. Mágico. De repente é que veio a valsa, calando os palhaços. E com a valsa, ela. Ela com brancas asas, como um anjo voador. Linda menina fazendo acrobacias espetaculares no trapézio. Uma pequena deusa ondulando o corpo nas cordas, subindo e descendo por elas, como um anjo no céu. E a valsa sublimando aquele momento, deixando o menino em êxtase. A valsa tornando mais belo o espetáculo, o anjo voador tornando mais bela a valsa. O menino em suspense. Uma paixão inesquecível. Pois esse menino, já adulto, não foi capaz de outra paixão, sequer de outro amor, senão aquele.

   O anjo no trapézio dominando os olhares da plateia, a valsa maravilhosa enchendo o silêncio do suspense, ambos produzindo a magia daquele momento inesquecível tomavam conta de Marcos e o neutralizavam. Paralisavam-no diante da namorada. Uma tortura. A impotência? Aquilo não poderia ser para o resto da sua vida.

   Marcos, depois de muitas noites e madrugadas de insônia, achou a solução quando conheceu uma bela moça, que julgou ser capaz de fazê-lo esquecer o anjo voador, a menina bailando nas cordas ao som da valsa celestial.

 Mas ao primeiro beijo fracassou. Foi um beijo frio. No desespero daquela inexplicável impotência, na próxima noite achou a solução para a sua vida. Olhou a namorada longamente, em silêncio. Dos pés à cabeça. A moça ficou com medo. Ele estava e não estava ali. Enlouqueceu? Ia desmaiar?

   Muito longe disso, ele estava pondo no corpo dela o anjo voador, e envolvendo ambos na valsa inesquecível. Só assim seria capaz de amar. Envoltos naquela imagem e naquela valsa, envoltos naquele momento, imagem e valsa magicamente vivos nele. Marcos fazia a transmigração para a namorada da alma daquele momento, pondo nela o anjo voador e a rodeando da valsa inesquecível. Foi assim que se apaixonou por ela, perdidamente. Beijou-a como ela jamais fora ou seria amada, por qualquer homem do mundo. Amor sublime, beijo de arrepiar - confessou ela às amigas. Foi um amor surreal, destinado a ser eterno.

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