UMA HISTÓRIA DE AMOR

                                                        UMA HISTÓRIA DE AMOR

   Tuffi e Zaquia eram amigos de infância. Amigos que brincavam, felizes, nas chácaras dos seus pais, entre as plantações de uva, maçã e haxixe, no Brasil chamada maconha. A plantação de haxixe era permitida, na região. Zaquia, já no Brasil e já casada com Tuffi, contava ao filho Zaidan que comia semente de haxixe e ficava tontinha, tontinha. Quando o filho lhe disse que no Brasil isso era crime e dava cadeia, Zaquia se assustou.

   - É mesmo? Haxixe? Não acredito!...

   Sim, eram crianças felizes em Ras Baalbeck, no Líbano, perto das bíblicas Colunas do Templo de Baalbeck, entre as plantações de uva, maçã e haxixe. A vida adulta não destruiu a bela amizade. Adultos, eram ainda amigos e felizes, como se ainda crianças.

   Mas um dia algo terrível aconteceu. Um tio fez uma tentadora proposta para Zaquia.

   - Zaquia, vamos para a América, vamos para o Brasil? Lá não é como aqui, lá trabalhando todos ficam ricos. Não quero ir sozinho, eu pago a passagem.

   - E Zaquia, que tinha em Tuffi apenas um amigo, veio para o Brasil.

   Tuffi acolheu a notícia calmamente, porque Zaquia era apenas uma amiga de infância.

   Mas à medida que os dias foram passando algo foi-lhe crescendo no peito e na alma. A coisa crescia e queria enlouquecê-lo. Até que aquele domínio inexorável virou um suplício. Tuffi, já com vinte e seis anos, não dormia, não comia. E foi assim que conheceu a loucura do amor e o suplício da saudade. A tragédia da distância, aumentando a saudade e a obsessão por Zaquia.        Ela na América e ele em Ras Baalbeck. Angústia atroz e insuportável.

  Ela na América e ele em Ras Baalbeck? Não, nunca, o paraíso virou um inferno. A angústia da saudade profunda, do amor instantaneamente bloqueado tomou conta de Tuffi. A aquela angústia era tão imensa quanto a distância entre o Líbano e a América.

  Sem dinheiro, como transpor a distância oceânica, continental, entre o Líbano e a América? -     -   Estou perdido - chorava Tuffi.

  Desesperado, foi para Beirut sem dinheiro sequer para a volta. Mas não queria voltar, Queria ir atrás. Procurou uns jogadores profissionais dos cassinos de Beirut, conterrâneos de Ras, e lhes suplicou o dinheiro da passagem, mesmo que nos porões do navio. Já lutando contra os grilhões da mais profunda depressão, chorava, torturado, enquanto lhes contava a sua desgraça. Os jogadores, impressionados com aquele abismo da alma, que nunca tinham testemunhado, prometeram dar-lhe o dinheiro, mas só se ganhassem no fim da semana. Tuffi não dormiu. Rezou e suplicou a Deus pela sorte dos jogadores, a sua salvação.

   Jogaram no domingo dia e noite, três perderam, dois ganharam, e estes, por compaixão, deram o dinheiro para Tuffi. Mas o dinheiro era insuficiente para alojamentos dignos, no navio a vapor, e ele precisava de dinheiro, para desembarcar e enfrentar os primeiros dias, nesse mundo desconhecido.

   Tuffi veio para o Brasil nos porões do navio, trabalhando como um escravo, enjoado às vezes, vomitando às vezes, e sempre exausto, Mas veio. Desceu em Santos, onde o esperava Salim, irmão de criação, sem ter ideia do tamanho do Brasil e, tortura angustiante, sem ter a mínima ideia de onde, onde, por Deus, estava Zaquia.

   Levou meses procurando-a em pânico, ele e Salim indagando a todos os viajantes árabes e sírios onde estava Zaquia, até que um, oriundo de Ras Baalbeck, informou a Salim que Zaquia estava morando com o tio em Joinville, Estado de Santa Catarina.

    Tuffi encontrou Zaquia em Joinville. As pernas bambas, a cabeça em transe, uma explosão de alegria no peito. Enfim, a ressurreição. A vida e o mundo lhe sorriam, novamente, nos olhos dela, nos olhos de Zaquia. Olhos lacrimejantes de Zaquia, porque ela, no Brasil, já sofria também a angústia da saudade. Surpreendente, imensa. E a ânsia de voltar para o Líbano.

- Quer voltar? Que loucura é essa? - Espantou-se o tio. - Ah, quer porque quer? Que é que deu em você, Zaquia? Pára de chorar, Zaquia!

Casaram-se no dia 10 de setembro de 1927, no primeiro distrito da Comarca de Joinville. E isso foi apenas o começo de uma maravilhosa história de amor.

RUA GORGULHO, 50, CENTRO - CARMO DE MINAS/MG
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora